O desempenho dos
portos e o salto para o crescimento
(Obs: artigo publicado simultaneamente com a Revista
Portos & Navios)
A crise gerada pelo novo coronavírus
foi grave, mas começa a ser superada. Dados referentes ao agronegócio nos autorizam
a apostar na capacidade de recuperação da economia brasileira. O segmento é uma
trincheira contra a recessão e a âncora da retomada. Somado à atividade
extrativista mineral, em especial minério e petróleo, têm sido a base de
sustentação do comércio exterior e, por consequência, fator de dinamismo da
atividade portuária, mesmo em meio à pandemia.
A safra
brasileira deste ano deverá ser 3,8% superior à de 2019, previu o IBGE, na sua
análise de julho. Haverá incremento na produção de café (18,2%), arroz (7,3%),
sorgo (6,4%), soja (5,9%), laranja (4,1%)
cana de açúcar (2,4%) e trigo (41%!), entre outras lavouras. A área colhida,
cerca de 70 milhões de hectares, já era aquela destinada à agricultura, o que
significa que o agronegócio não é o vilão dos desmatamentos ilegais e incêndios
na Amazônia, como pretendem seus competidores externos – ou inimigos internos.
A Covid-19 pressionou a demanda por
alimentos produzidos no Brasil, e não apenas grãos. A produção brasileira de
frango cresceu 1,7% no primeiro semestre, devendo aumentar 4% até o fim do ano,
algo em torno de 13,7 milhões de toneladas. A produção de proteína suína teve
alta de 6,5% no primeiro semestre (4,25 milhões de toneladas), com previsão de
crescimento das exportações em 33% este ano. As exportações de café registraram
o segundo melhor desempenho da história, com 40 milhões de sacas embarcadas no
ano-safra 2019/2020, encerrado em junho.
A balança comercial obteve superávit
histórico em julho, com saldo de US$ 8 bilhões, o maior desde o início da série
histórica, em 1989, apesar de a corrente de comércio (exportações e
importações) ter sofrido queda de 18% em relação ao mesmo mês do ano passado. O
saldo de julho deste ano foi 237% maior que o mesmo período do ano passado,
graças ao vigor das exportações agrícolas e, claro, à alta do dólar. No
acumulado de 2020, o saldo positivo é de US$ 30,3 bilhões, 8,2% acima dos
primeiros setes meses de 2019.
Os portos foram positivamente
impactados pelo agronegócio e pela atividade extrativista. A movimentação nos
terminais brasileiros cresceu 4,4% de janeiro a junho, de acordo com
levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Embora haja registro
de terminais que tiveram queda de até 40% na movimentação de carga em
determinado período do semestre – em geral, aqueles cuja ênfase estava nas
importações e que enfrentaram grande número de cancelamentos de escalas no
início da quarentena –, o desempenho geral superou as expectativas.
De janeiro a julho, os terminais paranaenses,
dedicados ao agronegócio, movimentaram 33,3 milhões de toneladas, 10% a mais do
que no mesmo período do ano passado. Nas exportações, o crescimento foi de 14%.
Os portos do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande), em
conjunto, registraram recorde histórico na movimentação de carga em junho, com
4,4 milhões de toneladas movimentadas. O complexo Itajaí-Navegantes, em Santa
Catarina, registrou crescimento de 24% no mês de julho em relação ao mesmo mês
do ano passado. O Porto de Suape, em Pernambuco, com ênfase no granel líquido e
gás liquefeito, cresceu 17% (movimentando 12,3 milhões de toneladas) no
primeiro semestre, comparado ao mesmo período do ano passado.
No Porto de Santos, o maior da
América Latina, o desempenho não foi diferente. Apesar da queda isolada em
alguns terminais, o resultado geral foi positivo. Em julho, o porto obteve o
seu recorde para um mês, com 13,48 milhões de toneladas movimentadas, o que
representou uma alta de 5,9% em relação a julho de 2019. Foi também o sexto mês
seguido de recorde na movimentação. De janeiro a julho, Santos registrou também
o melhor resultado para um primeiro semestre, com 84,1 milhões de toneladas
movimentadas, 10,2% acima do mesmo período de 2019.
Em meio à resistência, seguem as
expectativas quantos aos projetos de privatização no setor de infraestrutura
programados pelo governo, alguns previstos para este ano. Os novos
investimentos serão a garantia de que não haverá perda de eficiência – ou
colapso logístico –, quando o crescimento econômico vier de forma robusta, como
todos esperam. Na verdade, esses investimentos serão também um fator determinante
para o crescimento da economia, um círculo virtuoso. Especificamente em relação
aos portos, o governo pretende licitar uma dezena de terminais portuários públicos
ainda neste segundo semestre. Os resultados desses processos serão um
termômetro quanto à capacidade de recuperação da economia. Outra série de
projetos relativos à infraestrutura rodoviária e ferroviária, já em andamento,
também serão de capital importância.
Essas são as ações de curto prazo. No
médio e longo prazos, aliado a isso tudo, será também imperativo estabelecer
para o país uma estratégia de desenvolvimento que independa do seu eficiente e
competitivo agronegócio. Seremos ainda mais fortes – e menos vulneráveis a
crises –quando voltarmos a ter um setor industrial tão vigoroso quanto à
economia do campo. Neste sentido, empresas como a Embraer, a Petrobras e a
própria Embrapa nos dão a certeza de que temos capacidade para dar este salto. Mãos
à obra.
Por Nilson Mello