O problema do ativismo
Na origem
de uma crise econômica há sempre uma interferência indevida no mercado, fruto
do ativismo estatal. Na crise imobiliária das subprime, em 2007/2008, estava o estímulo ao financiamento
irresponsável (créditos de altíssimo risco), feito pelo governo dos Estados
Unidos por meio das agências Freddie Mac e Fannie Mae.
Nenhum
capitalista no pleno domínio de suas capacidades mentais concederia
financiamentos nas condições que as duas agências paraestatais concederam,
muito menos em larga escala como foi feito.
A obra da
era Bush, filho é uma prova de que ações intervencionistas, de caráter populista
(e, frise-se, geralmente bem-intencionadas), não são exclusividade de governos
autodenominadas de esquerda.
Na
quebradeira de 1929, o intervencionismo também se fez presente, nos seus
antecedentes, com o superdimensionado e indecente "dedo"
governamental (muito maior do que a temida "mão invisível do
mercado") estimulando a compra de ações, mesmo quando analistas tarimbados
alertavam para o artificialismo decorrente da propaganda oficial, o irrealismo
da valorização das cotações e as consequências dramáticas que adviriam do
inevitável estrondo da "bolha" (um episódio muito bem documentado em
"1929", de Ivan Sant'Anna).
Os dois
exemplos acima são casos emblemáticos de como o intervencionismo, divorciado de
regras de mercado e, portanto, de parâmetros técnicos consistentes, gera
distorções em cadeia. Arrisco dizer que o único grande e verdadeiro problema da
economia, em qualquer parte do mundo, são os governos.
Na gênese
da crise causada pelo bloqueio de rodovias, o ativismo pode ser identificado na
concessão, via BNDES, de financiamento facilitado, e em larga escala, para a compra
de caminhões. A medida foi adotada durante o governo Dilma Rousseff, em
atendimento ao pleito da indústria automobilística, que queria vender mais
veículos - um clientelismo típico do "capitalismo de Estado" entranhado
na cultura política brasileira.
A medida,
cuja justificativa formal era baixar custos da cadeia produtiva, fez o valor
dos fretes despencarem, resultado da multiplicação da oferta de serviços de
transporte de carga em meio a uma vertiginosa queda de demanda. Uma conta que
obviamente não poderia fechar e que acabaria estourando.
Não custa
lembrar que a queda de demanda, ela também, já era resultante de uma recessão
econômica fomentada por outras medidas heterodoxas do mesmo governo Dilma. Por
que uma das características do ativismo é achar que doses maiores de
intervencionismo resolverão o problema que a dose menor criou.
O resultado
dessa equação foi o estrangulamento crescente do segmento de transporte de
cargas, agravado, neste momento, pelo irrecorrível reajuste de preços dos
combustíveis, tendo em vista a oscilação do câmbio e o aumento do preço do
petróleo no mercado externo.
O estímulo
artificial de financiamento para compara de caminhões num período de
desaquecimento e, por consequência, de menor demanda por transporte, não só
jogou os fretes no chão como gerou ineficiência econômica.
A melhor
forma de um governo estimular uma economia tornando-a eficiente é reduzindo
tributação, linearmente. Sim, linearmente, e não setorialmente como foi feito (também
em Dilma) com as desonerações, que geraram mais distorções e agravaram o
déficit fiscal.
Contudo,
para tributar menos, o governo tem que gastar menos. No caso brasileiro, o
desafio é gigantesco porque isso implica rever direitos, uma vez que a maior
parte dos gastos da União (quase 90%) são despesas obrigatórias, determinadas
em Lei. Um primeiro passo seria levar adiante a Reforma da Previdência, que
consome a maior parcela do orçamento. A sociedade está pronta para apoiar essa
reforma?
O outro
jeito de o governo ajudar a economia é não tentar fazer o papel do mercado,
criando ou suprimindo oferta e demanda artificialmente, de dentro de um
gabinete.
Por Nilson Mello