terça-feira, 30 de agosto de 2016

Comentários do Dia


Crueldade
    De todas as fantasias proferidas no plenário do Senado desta segunda-feira, durante o julgamento da presidente afastada, a mais cruel foi a que justificou o rombo fiscal como necessário para garantir a manutenção de programas sociais.
    Ora, foi justamente a má gestão da economia que colocou em risco a manutenção desses programas (por sinal, indispensáveis num país desigual como o Brasil).
    A segunda pior potoca (ou falácia) decorre da primeira. Ela tenta fazer incautos acreditarem que quem é crítico do governo Dilma está contra os pobres. Este foi o pano de fundo da "defesa" ao longo da segunda-feira no Senado.
    Vale lembrar que quem mais perdeu com o desgoverno Dilma foram as camadas menos favorecidas da população. A renda média despencou nos últimos anos, por conta da recessão, da inflação e do desemprego. A propósito, o povo foi às ruas contra o impeachment?

Releitura
    Pelo que se ouviu da presidente afastada durante a sua fala no Senado, pode-se dizer que ela reconhece, implicitamente, que o seu governo foi realmente abaixo da crítica.
    Mas, pela sua retórica, a culpa não foi sua, e sim do preço do petróleo; da redução de demanda  por parte da China; da consequente queda das commodities agrícolas e minerais; do Banco Central americano, que "irrigou" a sua economia; do clima no Brasil, que não trouxe chuvas no volume desejado; da oposição, que criou uma pauta-bomba no Congresso; da mídia, que noticiou esta pauta-bomba... Em suma, tem-se a impressão que todos, incluindo a natureza, conspiraram contra o seu governo, menos a sua própria inaptidão para governar.

Simplificação
    Raciocínio simplista que circula pelas redes - e é atribuído à atriz Patrícia Pilar - alerta que, com o afastamento de Dilma, "a direita corrupta" tomará conta do país. Bem, se for verdade, torçamos para que seja menos voraz do que a "esquerda corrupta", que está prestes a deixar o Poder.
    O que chama a atenção é que pessoas que hoje se indignam e se alarmam permaneceram em silêncio nos últimos anos, enquanto verdadeiro assalto aos cofres públicos e às estatais foi perpetrado pelo partido que se apropriou da máquina administrativa (como bem prova a Operação Lava Jato).
    De qualquer forma, que Polícia Federal, Ministério Público, Judiciário e mídia (enfim, todas essas instituições tão criticadas pelos indignados do momento) redobrem a atenção. Terão o apoio da sociedade.


Legitimidade
    Não custa lembrar mais uma vez. Ao contrário do que a defesa e os partidários da presidente afastada alegam, o impeachment prova que a democracia brasileira está consolidada. E que suas instituições, Judiciário e Congresso à frente, sairão ainda mais fortalecidas do processo.

 Por Nilson Mello





quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Comentários do Dia

Para Charles Darwin

    Não se veem manifestações do tipo "Volta, Dilma". O que se tem, nas ruas e na Internet, é o "Fora Temer".
    Como se o advento de um não tivesse sido consequência da ascensão ao poder da outra. E em duplo sentido.
    Primeiro, porque foram eleitos na mesma chapa, pelos mesmos eleitores (petistas ou não). Segundo, porque o desgoverno dela, ensejou o governo interino (e prestes a se tornar efetivo) dele.
    Mas, de qualquer forma, o "Fora, Temer" não deixa de ser uma evolução, na melhor acepção darwiniana do termo.
    Ainda que tenha muito de uma implicância infantil nesta contestação: "se ela não pode brincar, ele também não". E batendo o pezinho, como menininhas no intervalo da creche.
    E por falar em evolução, é também sintomático constatar que a maioria daqueles que hoje são contra o processo de impeachment não se considera mais petista. Sintomático e simbólico. Aonde foram os petistas?
    Mas esta é para Freud, não para Darwin.

As camadas média urbanas

    Na verdade, quem afastou Dilma não foi a mídia "elitista". Quem criou as condições para o afastamento e abriu espaço para o processo de impeachment foram as camadas médias urbanas, desapontadas com o desgoverno e os crescentes escândalos de corrupção.
    As jornadas de junho de 2013 estão na gênse do processo. A mídia apenas deu ressonância à insatisfação da maioria da população. Mídia não elege e nem derruba presidente. Até porque apenas 5% da população leem jornais, e são os grandes jornais, muito mais do que a TV, que fazem a crítica qualificada e contundente.
    Se Mídia elegesse, derrubasse e mantivesse presidentes, Lula e Dilma possivelmente não teriam sido eleitos; Collor talvez nao tivesse caído. Dilma criou o seu impeachment ao conduzir a economia para um abismo. Lembre-se que Lula permaneceu imune, mesmo após o Mensalão, graças a uma condução econômica mais realista e responsável.
    Fazendo tudo errado na economia, e de mal com a política, a presidente ora afastada deixou o caminho livre para o encaixe de seus desacertos na leta da Lei. Deu substância ao crime de responsabilidade, pelas fraudes fiscais, potencializadas pela insatisfação geral. Os desarranjos econômicos e políticos serviram de pavio.
    Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas, Congresso e mídia não operariam o "golpe legal", com licença da contradição em termos, se não houvesse amplo apoio da sociedade. Onde estão as manifestações de rua pelo "volta, Dilma"? As ruas, hoje, estão calmas, em contraste com o que ocorria com Dilma na Presidência.


Por Nilson Mello