sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Artigo

             Ministro José Eduardo Cardozo

Tempos de falácias e embustes

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou nesta quarta-feira que as acusações que têm vindo a público contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva devem ser analisadas sob os enfoques judiciário e político, mas também sob a ótica do povo. Para o ministro, o que está claro é o propósito infamante das declarações.
Sob o enfoque judiciário, disse ele, as acusações não teriam qualquer “valor probatório” porque partem de pessoas já condenadas ou que estão sendo alvo de inquérito e, portanto, tentam, com a suposta manobra, vingar-se ou dividir responsabilidades. Além disso – prossegue o ministro em seu curioso raciocínio - as afirmações, todas elas caluniosas, não vieram acompanhadas de provas materiais.
Já do ponto de vista político, seriam acusações e ser encaradas como parte do embate natural entre oposição e governo. Neste contexto, segundo o ministro, devem ser minimizadas, relegadas aos escaninhos das futilidades político-partidárias, esvaziadas de qualquer efeito legal prático. Estranho raciocínio, novamente.
Pela ótica da opinião pública ou do povo – e nesse ponto regozija-se o ministro – aí mesmo é que as acusações não devem merecer nenhuma importância, porque, lembra ele, o povo já julgou o ex-presidente como um homem de bem, imbuído de elevado espírito público e comprometido com os verdadeiros interesses dos brasileiros.
O ministro encontra hoje nos altos índices de aprovação, e não na Lei, a melhor blindagem para Lula e o seu governo. Nada como dar tempo ao tempo e refazer o discurso político.
O atual titular da Justiça foi talvez o único parlamentar do PT que, no bojo do estouro do escândalo do “mensalão” – repita-se, o esquema de cooptação de apoio no Congresso montado pelo PT para consolidar o seu poder - declarou que a compra de voto existiu, que o fato não poderia ser escondido da sociedade e que seria preciso punir os responsáveis.
Reconheçamos que as denúncias do “mensalão”, embora estejam agora culminando com a efetiva condenação dos envolvidos, no desfecho da ação penal 470 no Supremo, e como consequência da robustez das provas dos autos, jamais alcançaram na sociedade ressonância à altura da gravidade do episódio.
Uma minoria no país mostra-se indignada. Mas mesmo entre a minoria, o ímpeto é de resignação, timidez, não de protesto ou reação. Logo, embalado nos referidos altos índices de popularidade, o ministro da Justiça põe-se à vontade para esquecer de vez o mea culpa do tempo de parlamentar e seguir em frente em defesa do governo Lula.
Com certeza vivemos tempos de embustes no Brasil. O PT, em seu governo, engendrou um esquema para dominar a máquina pública. O principal ministro da época, o presidente do PT e o tesoureiro do partido já foram condenados. Se tudo der certo (?), irão para cadeia em breve. Mas ele, Lula, segundo Cardozo, é vítima da falácia da oposição, em conluio com a mídia. Nada sabia.
E para você, onde está a falácia?

Por Nilson Mello

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


  O sinuoso Elevado da Perimetral desafoga o trânsito, mas será demolido por questões estéticas


Esses nossos prefeitos...
 
    Acho que nas outras capitais brasileiras, pelo que vejo em minhas rápidas viagens, acontece o mesmo que no Rio de Janeiro, ou algo parecido. Há muito empenho para colocar em andamento projetos vultosos e pouca ou nenhuma atenção à manutenção com o que já existe, funciona e custou dinheiro (muito dinheiro) do contribuinte.

    Aliás, o paralelo pode ser feito também com a esfera federal. Projeto faraônico sai do papel, mas o que é simples e rápido, não. Exemplo raso: havia um Trem de Prata que funcionava muito bem entre Rio e São Paulo e foi extinto. Os trilhos – ou parte deles - ficaram, mas o transporte foi abandonado por falta de visão estratégica.

Agora a tecnocracia decidiu que o transporte de passageiros sobre trilhos entre as duas maiores capitais brasileiras terá que ser feito com a implantação de um Trem-Bala. Para colocar de volta o Trem de Prata em operação bastaria recuperar o traçado ou retificá-lo onde estivesse mais degradado devido à omissão das autoridades; e comprar locomotivas e vagões convencionais, tudo bem mais barato.

Já o Trem-Bala tem custo inicial previsto de R$ 33 bilhões, mas todo mundo sabe que vai sair por muito mais, porque é assim que funciona o concluio entre Poder Público e setor privado no modelo cartorial brasileiro, em que poucos grupos prevalecem sobre o interesse da coletividade. Aqui o governo pode até ser de esquerda e o sistema, formalmente capitalista, mas o que vale mesmo é o velho patrimonialismo, independentemente de ideologias. É aquela velha história: para que gastar pouco, se pode se gastar muito?

Projeto barato não sai das gavetas dos Ministérios, não ganha concorrência. O modelo não privilegia a competitividade e está longe de ser de fato um capitalismo de mercado porque não promove a eficiência e a qualidade.

Voltemos ao Rio de Janeiro. Um dos principais viadutos da cidade, o Elevado do Joá, está caindo (literalmente) aos pedaços por absoluta falta de manutenção. Túneis e outras vias expressas estão na mesma situação. Especialistas dizem que a degradação no Joá chegou a tal ponto que seria preciso reconstruir a via, para evitar o seu colapso.

Enquanto isso, a mesma administração que se revela omissa em relação à manutenção das vias públicas, elabora um projeto faraônico para “revitalizar” a Zona Portuária da cidade, ao custo de mais de R$ 7 bilhões. Ironia: o projeto de “revitalização” prevê a demolição de outro elevado, o da Perimetral, via expressa de 7,5 km vital para a ligação entre o Centro e os subúrbios cariocas e por onde passam mais de 45 mil veículos por dia.

 Cálculos de especialistas (*) mostram que as vias que substituirão o eficiente Elevado da Perimetral não darão vazão sequer para a demanda de tráfego atual, sem considerar o inexorável aumento do fluxo dos veículos em função da prórpria revitalização da área. Onde está a lógica dessas obras, eu não sei. Mas o carioca, que reelegeu o prefeito com votação recorde, deve saber.

“Governar é abrir estradas” era o lema do governo do presidente Washinton Luís. Não seria exagero dizer que, para o prefeito carioca, governar é colocar elevados abaixo. E ele tem duas formas de fazer isso: pela omissão e pela ação direta, nesse caso, com o apoio efetivo de empreiteiras.

Por Nilson Mello*
*Sobre esses cálculos, ler comentários publicados neste Blog em 06/07, com informações do consultor em Transportes Marcos Poggi.